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sexta-feira, 17 de setembro de 2021
Deputado Luiz Marenco quer o folclore rio-grandense nas escolas
O deputado Luiz Marenco (PDT), seguindo sua proposta de sempre olhar pela cultura do Estado, protocolou o Projeto de Lei 265/2021 propondo que seja incluída a temática Folclore Gaúcho no currículo escolar da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, no âmbito do estado do Rio Grande do Sul.
Marenco acredita que é necessário dar maiores possibilidades a crianças e adolescentes para que se reconheçam perante a forma de ser e de estar no seu local de nascimento. Crê que o estudo do folclore contempla manifestações materiais e imateriais, reforçando a questão de pertencimento aos laços identitários. Entende também que a identidade é formadora da personalidade de cada ser perante a cultura, o folclore e o Estado. Além do mais, o folclore gaúcho é rico e, na sua opinião, deve ser pautado com prioridade aos alunos, perante os de outras regiões, que também são importantes, mas não devem ser preferenciais nas escolas do Rio Grande do Sul.
“Como sempre digo, não devemos permitir que a ausência de algo nos transforme em estrangeiros em nossa própria terra” afirma o deputado e, complementa: “acredito que estudar o folclore é a melhor forma de respeitar e compreender sua própria forma de ser perante o mundo”.
domingo, 12 de setembro de 2021
terça-feira, 7 de setembro de 2021
Artesanato de escama de peixe - Trabalho de Gilmara Silveira
ARTESANATO DE ESCAMAS DE PEIXE - Tradicionalidade, Rentabilidade e Sustentabilidade.
Uma vez que nos foi dada a tarefa de apresentar um relato de observações de uma manifestação cultural no seu município referente como trabalho de conclusão do 3º Curso de Folclore realizado pela Comissão gaúcha de Folclore, e diante dos temas sugeridos, me identifiquei com o artesanato.
Artesanato sempre foi algo que me chamou muita atenção. Principalmente artesanato que utilizasse materiais encontrados na natureza, como palha, flores, pedras, conchas, entre outros inúmeros materiais. Outro fator preponderante é o fato de se tratar de uma atividade de cunho familiar visto que normalmente o artesão trabalha com a família em sua própria casa, desenvolvendo todas as fases da produção, da busca da matéria ao produto final.
O artesanato folclórico possui função utilitária, pois dele resultam objetos com destinação, tais como toalhas, bonecas, enfeites, esculturas, cestarias, cerâmicas, bordados, lembranças, utensílios, etc.
O litoral gaúcho possui um rico artesanato desenvolvido com materiais naturais, como taboa, tiririca, folha de bananeira, maceguinha, conchas e também flores de escamas de peixe. O artesanato em Tramandaí sempre foi fonte de renda para as mulheres de pescadores que produziam seu artesanato e seus quitutes para venderem na alta temporada, uma vez que no período de baixa temporada aumentavam suas necessidades e não possuíam muitas funções rentáveis.
Algo bastante belo é o artesanato desenvolvido com flores de escamas de peixe e que com muita dedicação tem se mantido como identificador de uma região. É artesanato que reaproveita as escamas dos peixes pescados no litoral e que após preparo, se destina a inúmeros objetos como broches, brincos, bolas decorativas, chaveiros e até bordados em roupas.
A história da cultura da escama de peixe nos foi legada dos açorianos por volta do século XVII, tendo em vista que esta etnia tinha um gosto muito especial por decoração, pois costumavam enfeitavam suas casas com toalhas, rendas, guardanapos e flores. Atribuísse a origem dos trabalhos com escamas dos Conventos na Ilha dos Açores onde as freiras eram excelentes artesãs. Também há quem atribua esse artesanato ao homem simples da praia. Com a vinda dos açorianos para o Brasil, esses trouxeram junto seus costumes e crenças.
Entrevistando duas artesãs que trabalham com este material na cidade de Tramandaí, descobrimos a importância do resgate desta cultura que ganha ascensão a cada dia. Assim passamos a contar suas histórias:
" PATRÍCIA ELIETE LUCAS, 48 anos, é artesã desde os 13 anos. Possui dois filhos, Wagner e Julia. É Integrante do Clube “Arte Pura”. Aprendeu com sua avó materna Neusa e sua mãe Eliane a fazer tricô e crochê com seis anos de idade, e ensinou para a sua filha a partir desta idade também. “O artesanato faz parte da cultura de minha família tanto quanto rezar e respeitar os mais velhos.”
Através do SINE de Tramandaí foi convidada a fazer um curso de escama de peixe e concha, realizado pelo SENAC (PROJETO EMANCIPAR). O curso de três meses foi projetado para os moradores de um bairro da cidade (na época Agual) e para as famílias de pescadores. Desde então Patrícia realiza cursos de artesanato com Escamas de Peixe para a comunidade local."
Na cidade de Tramandaí todos os anos no final de junho, tem a Festa Nacional do Peixe, aonde o prato principal é a Tainha assada. Aonde o peixe é aberto e assado com a escama. Essas escamas são aproveitadas pelas artesãs deste material. No entanto relata Patrícia que ainda boa parte da população pesqueira considera a escama lixo e preferem jogar de volta no rio, em seus arredores ou descartar em lixo comum. Fato que prejudica os artesãos em conseguir este produto.
"EVA MALVINA DE LIMA FERREIRA, 85 anos, é artesã desde muito cedo, pois morava no Distrito de Estância Velha, Zona Rural de Tramandaí e era preciso produzir boa parte das coisas que necessitavam. Além do artesanato, Dona Eva, produz licores e doces artesanais. É integrante do Clube de Mães de Tramandaí.
Teve acesso ao curso de Escamas de Peixe através da EMATER e Secretaria da Agricultura. O curso era destinado a Mulheres do Campo e Mulheres de Pescadores. Neste curso aprenderam a confeccionar bolas de Natal, flores de escamas, guirlandas, brincos, broches e bordados. Esses bordados eram desenvolvidos com fios de prata vindos dos Açores, mas por serem de alto custo foram substituídos por fios de linha dourada e prateada.
“Em Portugal, nas Ilhas dos Açores, bordavam vestes para rainhas, noivas e demais para alta sociedade. Fizemos o curso no intuito de bordar os vestidos das rainhas da Festa do Peixe em Tramandaí. Mas nunca tivemos a oportunidade. Seria um resgate do artesanato açoriano aqui no Brasil!”
Eva relata que nas aulas foi referido que as pérolas também fazem parte da história açoriana, junto às escamas. No ano de 2017, a então Madrinha da 47ª Ciranda de Estadual de Prendas, que se realizaria na cidade de Bagé/RS, Ana Paula Vieira Labres, encomendou broches de escamas de peixe que foram confeccionados pela senhora Eva, para presentear suas afilhadas.
Seus broches também foram utilizados pela Invernada Juvenil do CTG Querência do Imbé, que tinha como temática do Arquipélago dos Açores: “A mais bela flor”.
O artesanato é uma oportunidade de desenvolvimento, crescimento e geração de renda. Artesanato que utiliza materiais encontrados na natureza ou materiais de reciclagem atinge um resultado muito mais que utilitário, ele contribui com o meio ambiente em com a perpetuação de uma identidade local.
O artesanato com escamas de peixe é tudo isso: folclore, tradição, sustentabilidade, rentabilidade e felicidade!
MODO DE PREPARO DAS ESCAMAS E CONFECÇÃO DAS PEÇAS:
-Com pescadores de lagoas, mar e rios ou nas peixarias;
-Lavar trocando a água algumas vezes e retirar restos de peixe e espinhas;
-Colocar as escamas numa mistura de três partes de água por uma parte de alvejante
proporcional a quanto de escanas, deixando de molho por aproximadamente 5 horas. Trocar a água e colocar de molho com sabão em pó por mais 2 horas;
-Colocar mais 1 hora de molho no amaciante;
-Deixar secar em uma caixa forrada com jornal em local arejado, mas sem pegar sol diretamente para não enrolarem as escamas;
-Depois deste processo, selecionar as escamas por tamanho;
-Podem ser tingidas;
-E podem ser cortadas conforme o modelo da flor, ou do objeto que será confeccionado,
colando suas pétalas com cola para artesanato e atualmente até cola quente.