quarta-feira, 28 de junho de 2023

Contos do Curso de Formação Folclórica de 2022

 

Como forma de preservar e valorizar as manifestações culturais populares do Rio Grande do Sul, despertar o interesse e o gosto pelo folclore regional, bem como enriquecer o conhecimento de novos integrantes, a Comissão Gaúcha de Folclore disponibiliza o Curso de Formação Folclórica, todos os anos. Ao final do curso é solicitado um trabalho que, no ano de 2022, foi sobre a pesquisa e elaboração de um conto local.

Quem traz o conto de hoje é de Carla Thoen.

 

Os Contos Locais

 

No RS, uma obra famosa e largamente conhecida é “Contos Gauchescos”, de João Simões Lopes Neto. Editada pela primeira vez em 1912, referida obra apresenta 19 contos com temática gauchesca do pampa gaúcho. As histórias são narradas por Blau Nunes, com aventuras de peões e soldados. Versam sobre o gaúcho, rústico, guerreiro, trabalhador, sempre enaltecido nas narrativas de guerra (ambientadas na Revolução Farroupilha). O vocabulário é típico, e a leitura, por vezes, impulsiona a busca do dicionário de regionalismos.

Amparada pelos conceitos teóricos, conversei com pessoas que conviveram com o casal Lúcio e Cilda Petersen, a fim de resgatar pelo menos um dos muitos contos narrados por eles.

E assim vem a história do Prudêncio...

Prudêncio, um cusco minguadinho, branco com pintas pretas, que viveu pelo menos dez anos. Era esperto e carinhoso. No fundo da casa em que vivia, havia um galinheiro, com galinhas poedeiras, cujos ovos eram colhidos para consumo da família.

Certa manhã, Cilda ouviu um grande barulho no galinheiro. Ao dirigir-se até lá, para verificar o que tinha acontecido, deparou-se com Prudêncio, rebocado de gema e clara em seu focinho.

A pedagogia antiga se fez valer, e Prudêncio levou uma sova bem gaúcha. Lúcio finalizou o dia tranquilo, certo de que, o seu melhor amigo, tinha aprendido a lição.

No outro dia, cedo, mais uma vez se ouviu um estardalhaço no galinheiro. O casal correu até o local e lá estava Prudêncio, mais uma vez, satisfeito e lambuzado de ovo.

Sem titubear, Lúcio pegou Prudêncio com uma mão, e com a outra, pegou um ovo, entrou na casa a passos largos e pôs o ovo a ferver. Quando o ovo estava cozido, retirou da vasilha e colocou na boca do cusco. Contam que chegou a sair fumaça “das ventas”. Cilda não pôde nem olhar a cena, tamanha a pena que sentia do cachorro.

Certos de que Prudêncio, desta vez, havia aprendido a lição, soltaram-no no pátio. Prudêncio ficou sumido o restante do dia.

E passou o dia... e caiu a noite...

Có... cocóricó... Foi o que se ouviu na manhã seguinte. Lúcio saiu muito bravo, para dar um fim naquele cusco. Afinal, amigos amigos, ovos à parte. No que estava chegando na porta, ouviu um novo som, desta vez uma espécie de arranhão na porta. Abriu-a e, para sua surpresa, lá estava Prudêncio, com o ovo intacto na boca. Largando o ovo no chão, saiu correndo em direção ao fogão, apontando o focinho para a caneca...

E não é que o cusco tinha gostado mais do ovo cozido do que do ovo cru... ?

 

Esse conto foi narrado pelo casal, fundadores dos dois CTGs de Gramado: Manotaço e Rodeio Velho. Seu registro foi possível através de lembranças pessoais e da entrevista com um dos netos do casal, Rodrigo Krause.




Por Francesca Mondadori

quinta-feira, 8 de junho de 2023

Contos do Curso de Formação Folclórica de 2022

 

Como forma de preservar e valorizar as manifestações culturais populares do Rio Grande do Sul, despertar o interesse e o gosto pelo folclore regional, bem como enriquecer o conhecimento de novos integrantes, a Comissão Gaúcha de Folclore disponibiliza o Curso de Formação Folclórica, todos os anos. Ao final do curso é solicitado um trabalho que, no ano de 2022, foi sobre a pesquisa e elaboração de um conto local.

Quem traz o conto de hoje é Patrícia Lautert.

 

História do nome de uma cidade chamada Uruguaiana

 

Naqueles tempos os campos eram totalmente abertos, não haviam fronteiras definidas. Por um rio dividia as terras, como acontecia pelas bandas do velho Uruguai que corria solto entre o Rio Grande de São Pedro e as terras lindeiras da Argentina.

Os gaúchos que cavalgavam de um lado para outro, instalando pousadas aqui e ali, um dia montaram um acampamento junto a um vau do Uruguai e por ali se instalaram, denominando a localidade de Passo de Santana. Logo, logo, criou-se junto aos ranchos um posto militar, que era para controlar os contrabandos.

No rancho de um campeiro, que tinha uma uruguaia por parceira havia nascido nos primeiros tempos uma menina muito linda, que batizaram com o nome de Ana, em homenagem à santa padroeira do lugar.

A moça crescia, ficava cada vez mais bonita e atraía a atenção de todos, embora ela não se interessasse por ninguém.

Um dia, porém, chegou um moço muito distinto para servir no posto militar. Era elegante no seu fardamento e, por sua vez, chamava a atenção das poucas moças do local. Quando, numa tarde, foi banhar-se no Uruguai, lá estava Ana, com seus longos cabelos negros, mergulhando graciosamente. Seus olhares logo se cruzaram e explodiu entre eles uma paixão muito forte.

Passaram a encontrar-se nos fins de tarde, à beira do Uruguai, rio que entrara definitivamente em suas vidas.

No entanto, no dia em que o pai dela descobriu o namoro, quis proibir que eles se vissem ou se encontrassem. Foi impossível. O amor era mais forte.

Veio, então, a medida extrema. Fez a moça embarcar, às escondidas do rapaz, para a terra de sua mãe (porque o Uruguai naquela época era navegável) e ela não teve tempo de, ao menos, despedir-se dele. Ficaria, em definitivo, no Uruguai, morando.

Mal pôde escrever na areia, junto ao rio, também às escondidas do pai, sua última mensagem, para indicar o seu destino e assiná-la: URUGUAI. ANA

Anos depois os farrapos juntaram os dois nomes para denominar a cidade que ganhou em definitivo Sant’Ana como Orago...



Por Francesca Mondadori