sábado, 7 de novembro de 2015

Encelências - por Paula Simon Ribeiro

          Encelências, Incelença ou Excelências, o termo varia em  cada região. Consistem em cantos fúnebres entoados à cabeceira dos moribundos,  aos pés dos falecidos ou nos cemitérios na hora final do sepultamento.

          Segundo Câmara Cascudo "Canto entoado à cabeceira dos moribundos ou mortos. Acredita-se que a incelença tem o poder de despertar no moribundo o horror ao pecado, incitando ao arrependimento. É cantada sem acompanhamento instrumental, em uníssono, em serie de 12 versos. Não deve ser interrompida, senão o espirito não alcança a salvação."

          Quando entoadas a cabeceira dos doentes tem como finalidade "ajudar a morrer, ou morrer sem medo", ou seja, ajudar o desenlace, convencer a alma a deixar o corpo físico.

           Quando já falecido é entoada aos pés e clama ao Senhor que receba bem esta alma, geralmente são rezadas doze estrofes.

          No cemitério consiste num canto fúnebre de despedida, é dirigido a Virgem Santíssima, a Jesus, ao a algum santo da devoção do rezador ou do morto.

          É um ritual de introdução portuguesa conhecido em inúmeras localidades no RS e em todo Brasil, atualmente caindo em desuso. Aqui no estado persiste muito raramente em alguma localidade interiorana e praticada por pessoas de idade avançada. Tende a desaparecer.

          Na região nordeste do Brasil são conhecidas varias excelências alem das já citadas, como a "Excelência da hora"  em que o canto cita a hora da morte, "Excelência de Maria" na qual se canta as partes do corpo e as peças de sua roupa. "Excelência da mortalha" entoada enquanto o morto é preparado, “Excelência da despedida" que é cantada no local onde ocorreu o velório (geralmente a residência do morto) até desaparecer o cortejo fúnebre.
Uma crença arraigada do povo é que não se deve contar quantos carros acompanham o cortejo, o numero de carros significaria o numero de anos de vida que a pessoa que contou teria ainda.

          Prof.ª Lilian Argentina registrou no litoral norte na década de 1940 o seguinte canto fúnebre:
          "Uma excelência minha Virgem do Rosário / Duas excelências abriu-se o sacrário / Depois do sacrário aberto, saiu o Senhor fora / A receber est´alma que vai para gloria".

          Outro exemplo recolhido no interior de Osório:
José, José, acende uma luz / na porta do ceu/ Pra iluminar Jesus
José, José, acende duas luzes / na porta do céu / Pra iluminar Jesus

          E assim sucessivamente, três, quatro até completar doze luzes.

          Com o avanço da tecnologia e dos meios de comunicação de massa estes e muitos outros rituais foram aos poucos perdendo espaço.

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