sábado, 16 de julho de 2016

MITOS DO BRASIL - SACI PERERÊ

Paula Simon

            Mito ameríndio, conhecido no centro do país ha quase 300 anos, teve ampliada a sua area de abrangência após a veiculação da série infantil de televisão "O sitio do pica-pau amarelo", baseado na obra de Monteiro Lobato, que por sua vez empregou elementos da cultura popular em histórias infantis.

           É descrito popularmente como negrinho de uma perna só que vive no mato, usa um calção preto, barrete vermelho com a ponta caída e fuma cachimbo. É moleque brincalhão e não faz mal a ninguém, apenas travessuras como amarrar a cauda dos cavalos, esconder objetos e outras brincadeiras de criança arteira.

           Apesar de ter uma perna só, desloca-se n mato em grande velocidade, desaparece num lugar e surge em outro distante imediatamente, Se é visto por alguém logo procura fugir, se a pessoa o vê, deve rezar um Credo (Creio em Deus), ele dá um assobio muito forte e some numa fumacinha vermelha.

          Diz-se também que o Saci vem em um redemoinho de poeira e para capturá-lo joga-se uma peneira sobre o mesmo. Não pode ser qualquer peneira, tem que ser de taquara cujo fundo seja formado a partir de uma cruzeta. É crença que se alguém  conseguir tirar-lhe o barrete torna-se seu dono e ele passa a obedecer  seu dono até conseguir apoderar-se de seu barrete novamente.

           Estudiosos do Folclore como Rossini Tavares e Julieta de Andrade o descrevem como: "Saci Pererê, Sererê ou Saperê,  negrinho de uma perna só, com barrete na cabeça e cachimbo na boca que se diverte em criar dificuldades na casa, nos campos e caminhos ermos". Para Câmara Cascudo "Pretinho, uma perna só, um olho só, mão furada, fuma cachimbo, assobia fortemente, esconde objetos" .

           Há unanimidade no barrete vermelho, que lhe confere invisibilidade.
Em Portugal existe o mito do "Fradinho da mão furada" que também possui barrete semelhante. Na mitologia indígena segundo Santa Ana Nery, o Mati-Taperê é um anãozinho coxo.

           O mito foi se transformando nos centros urbanos e tende a desaparecer, entretanto nas regiões afastadas, na zona rural ainda persiste.

          Este mito aparece na Argentina na região de Missiones e arredores, como Yasi Yateré,  como um pequeno homem loiro de cabelos longos. Anda despido e usa um grande chapéu de palha. Leva nas mãos um bastão de ouro que lhe confere poderes mágicos. Aparece nas "siestas" (horas de descanso após o almoço) e durante estas horas quentes faz correrias pelos campos, muitas vezes assustando o gado que se espalha também em correrias.

          Alguns estudiosos dizem que é de origem guarani, outros acham que é de origem brasileira.

          Difícil precisar sua pátria de origem, já que os estudiosos não possuem uma conclusão definitiva, a crença está espalhada por ampla zona da America que abrange Brasil, Paraguai, Argentina e Chile . Muda de nome em outras províncias, aparece como Casy Saperê, Yasi Yateré, Cacy Taperé e outros. Dizem que seu nome é a onomatopeia do canto de um pássaro, de onde vem seu nome, e quando canta ou assobia, desperta o medo nas pessoas que o escutam.

MITOS DO RS - O Angoera


                                           Paula Simon

           Para o Folclore MITO é um ser imaginário que tem alguma ação, ou seja, o mito faz alugma coisa, aparece, faz estripulias como o Saci Pererê, assusta alguem como o lobisomem, surge sobre as águas como as sereias, cuida das árvores como o curupira, suga a vida dos bebês e trança as crinas dos cavalos como a bruxa e muitos outros mais.

           Alguns mitos povoam a imaginação de nossa gente e em muitos lugares por este Rio Grande afora aparecem assustando, cuidadno de alguma coisa ou protegendo um lugar como o Mbororé, ou apenas divertindo-se como o Angoéra.
                                           
 ANGOÉRA

           Havia no Pirapó, região missioneira um índio muito valente. Mas o que tinha de valente tinha de arredio e esquivo. Era um homem triste que não gostava da companhia de outros seres, vivia escondendo-se nos matos, parecendo um fantasma, daí o seu nome, Angoéra.

            Não queria saber de contato com os missionários jesuítas e não passava nem perto das reduções. Mas tanto os padres fizeram e tentaram, que conseguiram conquistar a confiança do índio que  converteu-se a fé católica e foi batizado com o nome de Generoso.

           Com o batismo o índio que era triste ficou alegre, sociável, mudou completamente o seu temperamento e seu modo de ser, passou a gostar de festas, de danças, de música. Ficou amigo dos padres e até o fim de sua  vida permaneceu nas Missões ajudando a construir igrejas e as frequentando com toda devoção.

           Um dia já muito velho, o Senhor o chamou para junto de Si, e o índio Generoso morreu tranquilo após receber os sacramentos da igreja.

           Mas sua alma não quis ir embora, preferiu ficar por aí, procurando diversão e alegrias e , como diz Câmara Cascudo no Dicionário do Folclore Brasileiro "continua intrometido na vida da campanha gaúcha, qual um Saci Pererê cristão".

            E assim até hoje, quando uma viola tange sozinha suas cordas, uma vela se apaga com uma lufada de vento que não se sabe de onde veio, ou uma porta range sem ninguem tocar nela, sabe-se que o Generoso está por ali. Quando o gaiteiro toca uma marca bem cadenciada ele também se faz presente, podendo -se ouvir o ruido do sapateio marcado do velho índio missioneiro.

           E, de vez em quando "sopra" no ouvido do cantador estes versos que todos conhecem e que se tornou a sua marca:

           Eu me chamo Generoso/ Morador do Pirapó,/gosto muito de danças/ Com as moças de paletó