Paula Simon
Alguns mitos povoam a imaginação de nossa gente e em muitos lugares por este Rio Grande afora aparecem assustando, cuidadno de alguma coisa ou protegendo um lugar como o Mbororé, ou apenas divertindo-se como o Angoéra.
ANGOÉRA
Havia no Pirapó, região missioneira um índio muito valente. Mas o que tinha de valente tinha de arredio e esquivo. Era um homem triste que não gostava da companhia de outros seres, vivia escondendo-se nos matos, parecendo um fantasma, daí o seu nome, Angoéra.
Não queria saber de contato com os missionários jesuítas e não passava nem perto das reduções. Mas tanto os padres fizeram e tentaram, que conseguiram conquistar a confiança do índio que converteu-se a fé católica e foi batizado com o nome de Generoso.
Com o batismo o índio que era triste ficou alegre, sociável, mudou completamente o seu temperamento e seu modo de ser, passou a gostar de festas, de danças, de música. Ficou amigo dos padres e até o fim de sua vida permaneceu nas Missões ajudando a construir igrejas e as frequentando com toda devoção.
Um dia já muito velho, o Senhor o chamou para junto de Si, e o índio Generoso morreu tranquilo após receber os sacramentos da igreja.
Mas sua alma não quis ir embora, preferiu ficar por aí, procurando diversão e alegrias e , como diz Câmara Cascudo no Dicionário do Folclore Brasileiro "continua intrometido na vida da campanha gaúcha, qual um Saci Pererê cristão".
E assim até hoje, quando uma viola tange sozinha suas cordas, uma vela se apaga com uma lufada de vento que não se sabe de onde veio, ou uma porta range sem ninguem tocar nela, sabe-se que o Generoso está por ali. Quando o gaiteiro toca uma marca bem cadenciada ele também se faz presente, podendo -se ouvir o ruido do sapateio marcado do velho índio missioneiro.
E, de vez em quando "sopra" no ouvido do cantador estes versos que todos conhecem e que se tornou a sua marca:
Eu me chamo Generoso/ Morador do Pirapó,/gosto muito de danças/ Com as moças de paletó
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