terça-feira, 11 de abril de 2023

Contos do Curso de Formação Folclórica de 2022

 Como forma de preservar e valorizar as manifestações culturais populares do Rio Grande do Sul, despertar o interesse e o gosto pelo folclore regional, bem como enriquecer o conhecimento de novos integrantes, a Comissão Gaúcha de Folclore disponibiliza o Curso de Formação Folclórica, todos os anos. Ao final do curso é solicitado um trabalho que, no ano de 2022, foi sobre a pesquisa e elaboração de um conto local.

   Começamos com o trabalho de Beatriz Regina Krug Colombeli. Boa leitura!


A menina milagrosa

O tempo corre como um rio e leva nas suas correntezas, histórias que ficam registradas às suas margens. E, num rio chamado Taquari, que corta terras do município de Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, surge esta história que está sepultada em um túmulo, porém mantém-se viva no imaginário de sua gente e aguça a fé de muita gente.

Contam os moradores que, “eram tempos de movimentação intensa, por volta de 1940”, no Porto de Vila Mariante, 2º Distrito de Venâncio Aires, e muitos pescadores, por ali navegavam. Entre estes pescadores estavam “Cecino do Couto e Cazuza”, nome ou apelido, do segundo, não se sabe ao certo. Quem recorda do fato, ainda da infância, é “José Silvio do Couto, filho de Cecino, atualmente, com 71 anos”.

Um certo dia, navegando por aquelas águas calmas, os dois pescadores avistaram algo boiando no rio. Ao se aproximarem avistaram uma gamela. Para surpresa dos pescadores, dentro dela havia um bebê, “ainda com o cordão umbilical.”


A funcionária pública Estela Maris de Freitas, 52 anos, relatou que Pedrolina da Fonseca Coutinho, que faleceu em março de 2019, aos 102 anos, natural de Linha Chafariz, onde morou durante décadas, costumava relatar inúmeros ‘causos’ da região ribeirinha. A história em torno da ‘menina milagrosa’ era uma delas.

(Débora Kist – jornalista)


De imediato os dois pescadores recolheram a gamela com a criança e quando alcançaram o objeto viram que se tratava de uma menina, de cor branca, mas já sem vida. Os pescadores recolheram a gamela com o corpo e direcionaram o barco para as margens do rio.

Próximo das margens morava um certo “Rodolfo Roberto Schroeder”, proprietário de terras. Em suas terras, na divisa de Linha Chafariz e Linha Castelhano, também no município de Venâncio Aires, ele enterrou o corpo da criança, “há mais de 70 anos.”

Os dias foram passando e os moradores das redondezas começaram a ouvir o choro de uma criança. No entendimento deles, era da menina ali enterrada, pois ela estaria pedindo para ser batizada. Contam que a população da localidade chamou um padre para fazer o batismo da criança. Esta recebeu o nome de Maria.


Durante décadas, a criança não teve um túmulo. Apenas uma laje indicava o local. Lucila Lopes da Silva conta que familiares de Rodolfo Roberto Schroeder, que moram em Porto Alegre, enviaram dinheiro para a construção de uma sepultura.

(Débora Kist – jornalista)



Os anos se passaram e no local foi construída há uma pequena gruta doada por moradores daquela localidade. Na gruta estão as imagens de “Nossas Senhoras do Rosário e Aparecida, além da estátua de um anjo”.  Também, no local além de vasos de flores, são depositados brinquedos, mamadeiras e até chupetas, como pagamento de promessas, ou pedidos à Menina Milagrosa.


A menina milagrosa ainda mobiliza uma comunidade, atrai curiosos e mexe com algo caro para muitos (a fé). Isso precisa ser considerado e respeitado.

(Débora Kist – jornalista)

 Por Francesca Mondadori

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