domingo, 16 de abril de 2023

Contos do Curso de Formação Folclórica de 2022

       Como forma de preservar e valorizar as manifestações culturais populares do Rio Grande do Sul, despertar o interesse e o gosto pelo folclore regional, bem como enriquecer o conhecimento de novos integrantes, a Comissão Gaúcha de Folclore disponibiliza o Curso de Formação Folclórica, todos os anos. Ao final do curso é solicitado um trabalho que, no ano de 2022, foi sobre a pesquisa e elaboração de um conto local.

    Para o dia de hoje, vamos com o conto de Jairo Luiz Alves Bitello.


                                            OS CARRETEIROS E A BODEGA DO DORCELINO

     A Bodega do Dorcelino encontrava-se próximo da localidade do Morro Agudo, área rural da cidade de Gravataí, divisa com a cidade de Novo Hamburgo, onde era passagem obrigatória dos carreteiros que vinham de Campo Bom, Lomba Grande, Taquara e outras tantas cidades, com mercadorias para vender em Porto Alegre, Cachoeirinha, Esteio e outras localidades.

     Como passavam muito cedo, por volta das três horas da madrugada, o seu Dorcelino como era chamado, encarregou Breno, seu filho mais velho, por apelido Brenão, por ser alto e magro, com treze anos de idade,  de abrir a Bodega (armazém) para atender os carreteiros que ali paravam, para dar um fôlego (forgo) nos bois e esperar algum carreteiro atrasado para seguir viagem juntos, e tomar um trago (cachaça) ou um café, principalmente no inverno, eles também pegavam alguns mantimentos (fiambre) para a viagem.

     Logo que os carreteiros seguiam o seu destino, o menino voltava pra cama dormir e recuperar o sono, pois, sua tarefa estava cumprida e poderia dormir até um pouco mais tarde, sem prejuízo aos estudos, que  por sorte, as aulas não eram no turno da manhã. O pagamento quase sempre acontecia, no retorno das viagens, dois ou três dias depois, quando voltavam com dinheiro da venda das mercadorias. Conforme Brenão, os carreteiros pagavam tudo certinho. Foi quando, em uma ocasião, seu pai ficou doente e teve que ir para a cidade com sua mãe fazer um tratamento médico, onde passaria alguns dias em casa de parentes, Breno vendo que estava faltando mercadorias no armazém, ele mesmo de carreta, foi buscar os produtos faltantes no centro da cidade de Gravataí, sendo que, já conhecia o local por ter ido algumas vezes com seu pai, e quando parou a carreta em frente do estabelecimento onde iria fazer as compras, estava ali, seu Dorcelino, com ares de furioso, olhando firmemente para o filho, Breno quase desmaiou, pois conhecia o pai que tinha, muito rígido e bravo, seu pai, como já estava retornado pra casa aproveitou pra fazer algumas compras, justamente para a sua bodega, furioso pela atitude de seu filho, mas no fundo, com orgulho de ver seu filho já um homem, e com a ajuda da mãe, Breno foi salvo, e a partir desse dia, Brenão  passou a ser o carreteiro da família.

     E trabalhando muito, adquiriu sua própria carreta e uma junta de bois azebuados, assim ele transportava as quitandas para vender na cidade, e trazia novos produtos para sortir a Bodega do pai, passando a ser então, mais um carreteiro como seus amigos. E o trabalho de levantar cedo pra atender os carreteiros passou para um de seus irmãos.

Carreteiro entrevistado:  Breno Antônio da Silva.


Por Francesca Mondadori

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