Como forma de preservar e valorizar as manifestações culturais populares do Rio Grande do Sul, despertar o interesse e o gosto pelo folclore regional, bem como enriquecer o conhecimento de novos integrantes, a Comissão Gaúcha de Folclore disponibiliza o Curso de Formação Folclórica, todos os anos. Ao final do curso é solicitado um trabalho que, no ano de 2022, foi sobre a pesquisa e elaboração de um conto local.
Para o dia de hoje, vamos com o conto de Jairo Luiz Alves Bitello.
OS CARRETEIROS E A BODEGA DO
DORCELINO
A Bodega do Dorcelino encontrava-se próximo da localidade do Morro Agudo,
área rural da cidade de Gravataí, divisa com a cidade de Novo Hamburgo, onde
era passagem obrigatória dos carreteiros que vinham de Campo Bom, Lomba Grande,
Taquara e outras tantas cidades, com mercadorias para vender em Porto Alegre,
Cachoeirinha, Esteio e outras localidades.
Como passavam muito cedo, por volta das três horas da madrugada, o seu
Dorcelino como era chamado, encarregou Breno, seu filho mais velho, por apelido
Brenão, por ser alto e magro, com treze anos de idade, de abrir a Bodega (armazém) para atender os
carreteiros que ali paravam, para dar um fôlego (forgo) nos bois e esperar
algum carreteiro atrasado para seguir viagem juntos, e tomar um trago (cachaça)
ou um café, principalmente no inverno, eles também pegavam alguns mantimentos
(fiambre) para a viagem.
Logo que os carreteiros seguiam o seu destino, o menino voltava pra cama
dormir e recuperar o sono, pois, sua tarefa estava cumprida e poderia dormir
até um pouco mais tarde, sem prejuízo aos estudos, que por sorte, as aulas não eram no turno da manhã.
O pagamento quase sempre acontecia, no retorno das viagens, dois ou três dias
depois, quando voltavam com dinheiro da venda das mercadorias. Conforme Brenão,
os carreteiros pagavam tudo certinho. Foi quando, em uma ocasião, seu pai ficou
doente e teve que ir para a cidade com sua mãe fazer um tratamento médico, onde
passaria alguns dias em casa de parentes, Breno vendo que estava faltando
mercadorias no armazém, ele mesmo de carreta, foi buscar os produtos faltantes
no centro da cidade de Gravataí, sendo que, já conhecia o local por ter ido
algumas vezes com seu pai, e quando parou a carreta em frente do
estabelecimento onde iria fazer as compras, estava ali, seu Dorcelino, com ares
de furioso, olhando firmemente para o filho, Breno quase desmaiou, pois conhecia
o pai que tinha, muito rígido e bravo, seu pai, como já estava retornado pra
casa aproveitou pra fazer algumas compras, justamente para a sua bodega,
furioso pela atitude de seu filho, mas no fundo, com orgulho de ver seu filho
já um homem, e com a ajuda da mãe, Breno foi salvo, e a partir desse dia,
Brenão passou a ser o carreteiro da família.
E trabalhando muito, adquiriu sua própria carreta e uma junta de bois
azebuados, assim ele transportava as quitandas para vender na cidade, e trazia
novos produtos para sortir a Bodega do pai, passando a ser então, mais um
carreteiro como seus amigos. E o trabalho de levantar cedo pra atender os
carreteiros passou para um de seus irmãos.
Carreteiro entrevistado: Breno Antônio da Silva.
Por Francesca Mondadori
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