Como forma de preservar e valorizar as manifestações culturais populares do Rio Grande do Sul, despertar o interesse e o gosto pelo folclore regional, bem como enriquecer o conhecimento de novos integrantes, a Comissão Gaúcha de Folclore disponibiliza o Curso de Formação Folclórica, todos os anos. Ao final do curso é solicitado um trabalho que, no ano de 2022, foi sobre a pesquisa e elaboração de um conto local.
Quem traz o conto de hoje é de Sandra Marília Pippi Peixoto
Os
Conto Locais
Os contos locais, sobre o Lobisomem, que são narrados em Val de
serra, localidade de mais ou menos 600 pessoas, no município de Júlio de
Castilhos, são contados pelos avós, pais e também por novos moradores, até
adolescentes, que mesmo morando há pouco tempo escutam as histórias, de um
bicho peludo, com grandes orelhas, que batem uma na outra, e com enormes
dentes.
Há quem disse que viu, outros escutaram uivos, barulhos, batidas
nas portas, e alguns aprenderam, até uns dizeres para afastar o Lobisomem ou no
outro dia identificar quem se transformava no “bicho”. São muitos causos, e
também o comentário que nos dias de hoje, não aparece mais o Lobisomem, mas
alguns escutam uivos. O certo é que quase ninguém duvida.
Conta um senhor, morava um pouco afastado da vila, e que às vezes
dava um passeio, na casa de parentes ou amigos. Numa sexta-feira, ficou um
pouco mais tarde, a prosa estava boa, mas antes da meia noite, tratou de
voltar, e ao chegar na porteira, mais ou menos uns trezentos metros de sua
casa, assoviou para os cachorros, que vieram encontrá-lo, seguindo tranquilos,
pela estrada, a lua bem clara, e chegando no galpão, onde tinha seu quarto, ao
lado da casa de seus pais, foi deitar e os cachorros, como sempre, ficaram lá
fora, na porta do galpão.
Alguns minutos passaram, e os cachorros começaram a latir,
avançando em alguma coisa, o rapaz levantou e abriu uma fresta da porta, e viu
um enorme bicho, parecendo um porco, mas muito maior, com grandes orelhas, que
batiam uma na outra, fazendo muito barulho, fechou rapidamente a porta, e ficou
muito quieto, até que tudo ficou novamente em silêncio, em seguida seu pai
veio, olharam por tudo, mas nada mais havia, apenas os cachorros ainda
assustados, a noite clara e tranquila, ficando a certeza que era o Lobisomem.
Outro conto, foi de uma avó que escutou uma história: Uma senhora
contou que seu vizinho, sempre saia cedo da noite, nas sextas-feiras de lua
clara, e no outro dia dormia até tarde. Uma noite resolveu cuidar, e viu o
vizinho sair e se dirigir para um galinheiro.
Curiosa, vestindo um vestido vermelho, foi dar uma espiada, e ao
chegar perto do galinheiro, viu aquele bicho horrível, peludo, orelhas grandes,
que batiam uma na outra e grandes dentes, e ao avistá-la veio ao seu encontro,
e ela saiu correndo, subiu numa árvore alta, e o bicho tentava pegá-la, mas
apenas conseguiu rasgar a barra do vestido que era comprido. Vieram cachorros e
o bicho saiu em disparada.
No outro dia, a senhora foi na casa, e muito disfarçadamente
conseguiu dar uma olhada no quarto, onde o senhor dormia, com a boca um pouco
aberta, apenas pode reparar que nos seus dentes havia uns fiapos vermelhos. E
assim, nas rodas de conversas, muitas histórias são contadas.
Por Francesca Mondadori
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